MP quer fim do uso de armas para intimidar pessoas em situação de rua durante abordagens em SC
15/07/2025
(Foto: Reprodução) Pessoas em situação de rua dormindo no Centro de Florianópolis
Bianor da Silva Rosa/MPSC/Divulgação
O Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) elaborou um relatório com orientações humanizadas às forças de segurança durante abordagens a pessoas em situação de rua. Entre as recomendações está a de evitar o uso de armas para constranger ou intimidar essa população.
As orientações integram levantamento sobre a rede de atenção às pessoas em situação de rua de 13 municípios catarinenses. As cidades foram escolhidas por concentrarem a maioria dessa população registrada no Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico), até março de 2025.
O MPSC disse ainda que vai abrir um inquérito civil para apurar como as abordagens a pessoas em situação de rua vêm sendo realizadas em todo o estado.
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Os tipos de violência incluem negligência, tortura psíquica, maus-tratos e constrangimento. Os dados foram divulgados pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania.
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Sobre esse caso, a Polícia Militar disse em nota que "o Inquérito Policial Militar (IPM) segue dentro de seus prazos e as investigações seguem de forma sigilosa para não atrapalhar o andamento do processo. Os policiais seguem no trabalho operacional até o resultado final".
Orientações do MP
Além do não uso de armas para constranger ou intimidar a população em situação de rua, o MPSC orienta às forças de segurança:
abordar com respeito, sem xingamentos, humilhações ou outras formas de desrespeito;
os agentes das forças de segurança devem se identificar e deixar claro o motivo da abordagem;
explicar o motivo de pedir a apresentação de identificação ou de outros documentos da pessoa em situação de rua;
ouvir a pessoa abordada sem interrupções ou induções de discurso;
os policiais devem conhecer os recursos da rede de atenção psicossocial. Os comandos devem dar aos policiais a lista de contatos de cada serviço;
não recolher forçadamente os pertences de pessoas em situação de rua;
não fazer o transporte compulsório de pessoas em situação de rua;
caso apreenda algum pertence, prestar informações claras sobre onde eles ficarão e como a pessoa pode recuperá-lo.
O MPSC esclareceu que avalia que a abordagem das pessoas em situação de rua deve ser feita com urbanidade e respeito pela dignidade humana, mas, sempre, por questões de segurança, acompanhada por força policial armada.
"Mesmo a abordagem da assistência social deve ser acompanhada por policial armado porque, não raras vezes, as pessoas abordadas estão com armas brancas que podem colocar em risco não só a sociedade em geral, como também as pessoas que estão ali para fazer o diagnóstico e os encaminhamentos de políticas públicas", declarou o coordenador do Centro de Apoio Operacional Criminal do MPSC, Promotor de Justiça Geovani Werner Tramontin.
Sobre as orientações, a Polícia Militar disse em nota que "tem procedimentos operacionais padronizados que seguem a legislação em vigor e os direitos humanos, inclusive de como abordar pessoas" (leia a nota completa abaixo).
O relatório foi feito por um grupo composto por 12 integrantes do MPSC. Conforme o órgão, o objetivo é a troca de experiências, análise de boas práticas e proposição de recomendações para atuação em todo o estado.
As 13 cidades catarinenses que fazem parte do relatório são:
Florianópolis - 3.678 pessoas em situação de rua
Joinville - 963 pessoas em situação de rua
Itajaí - 783 pessoas em situação de rua
Blumenau - 494 pessoas em situação de rua
Balneário Camboriú - 481 pessoas em situação de rua
Criciúma - 429 pessoas em situação de rua
São José - 376 pessoas em situação de rua
Palhoça - 250 pessoas em situação de rua
Tubarão - 234 pessoas em situação de rua
Navegantes - 201 pessoas em situação de rua
Biguaçu - 196 pessoas em situação de rua
Itapema - 147 pessoas em situação de rua
Camboriú- 63 pessoas em situação de rua
No total, juntando com todos os outros municípios catarinenses, o estado tem um total de 11.588 pessoas em situação de rua cadastradas no CadÚnico.
Inquérito civil
O inquérito civil para apurar como as abordagens a pessoas em situação de rua vêm sendo realizadas em todo o estado será aberto pela 40ª Promotoria de Justiça da Comarca da Capital.
A apuração observará o cumprimento das diretrizes estabelecidas na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 976, do Supremo Tribunal Federal (STF), que define parâmetros para a atuação das forças de segurança pública em abordagens a pessoas em situação de rua.
O objetivo é verificar se existem protocolos específicos de abordagem a pessoas em situação de rua. Caso não existam, será analisado se as diretrizes do STF estão sendo observadas.
Também serão pedidos dados estatísticos, como o número de abordagens realizadas e a frequência de situações em que há apreensão de armas com os abordados.
"Após a análise das informações prestadas pelos órgãos públicos, o Ministério Público poderá avaliar a necessidade de ajustes ou mesmo propor a criação de um protocolo unificado, por meio da expedição de recomendações ou outras formas de atuação extrajudicial ou judicial", completa o Promotor de Justiça.
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Como denunciar
Caso você veja uma violação contra uma pessoa em situação de rua, pode denunciar pelos seguintes canais:
Telefone 100
Site da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos
E-mail: ouvidoria@mdh.gov.br
WhatsApp: (61) 99611-0100
O que diz a PM
Confira abaixo a nota completa da Polícia Militar:
A Polícia Militar de Santa Catarina (PMSC) continuará atuando de forma colaborativa com as instituições de assistência social, com as prefeituras e observando as suas atribuições de manter a segurança dos cidadãos catarinenses.
A PMSC tem procedimentos operacionais padronizados que seguem a legislação em vigor e os direitos humanos, inclusive de como abordar pessoas. Os policiais são orientados por critérios técnicos, legais e éticos em toda e qualquer abordagem.
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