Tarifaço de Trump: empresa de SC dá férias coletivas a quase 500 funcionários após medida
24/07/2025
(Foto: Reprodução) Empresa Ipumirim Mouldings fica no Oeste de SC
Divulgação
Uma empresa do setor madeireiro de Ipumirim, no Oeste de Santa Catarina, comunicou férias coletivas a quase 500 funcionários em meio a proximidade da aplicação, em 1º de agosto, da tarifa de 50% sobre a importação de produtos brasileiros anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
A empresa fabrica molduras de madeira para o mercado externo, sendo 95% do total para os Estados Unidos. A decisão da empresa de reduzir as operações foi motivada pela suspensão, na semana passada, dos contratos de exportação que ainda não haviam sido enviados aos portos.
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Em comunicado ao mercado e aos colaboradores, o grupo diz que a medida "visa aguardar que ambos os governos cheguem a um acordo, permitindo que as atividades comerciais continuem fluindo". Dos 500 funcionários diretos, apenas um setor com 15 colaboradores seguirá atuando.
"Entendemos que é um momento delicado, mas acreditamos que, juntos, superamos qualquer desafio. Informações detalhadas sobre as datas serão comunicadas diretamente por seus líderes", diz o comunicado (veja abaixo).
Empresa de SC anunciou férias coletivas após tarifaço de Trump
Reprodução
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No caso da Ipumirim, o percentual de comércio da empresa com os Estados Unidos gira em torno de 50%. A companhia atua em três frentes de negócios:
Fabricação de molduras de madeira para o mercado externo (95% para os EUA);
Fabricação de paletes para o mercado interno;
Fabricação de portas de madeira e kits de portas prontas, sendo 90% para o mercado interno e 10% externo (Uruguai e Paraguai).
Desafios do setor em Santa Catarina
No Norte do estado, indústrias do setor de extração de madeira e fabricação de móveis interromperam a produção após suspensão das compras pelos clientes estrangeiros.
Somente no polo madeireiro do Planalto Norte, que reúne as cidades de São Bento do Sul, Rio Negrinho e Campo Alegre, o mercado americano é destino de 62% da produção.
"Aqui na região temos empresas que já estão paradas desde a semana passada, outras estão parando esta semana e outras vão parar na semana que vem", declarou Arnaldo Huebl, vice-presidente da Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc) na região.
Em entrevista à colunista da NSC Estela Benetti, o representante disse ainda que os importadores suspenderam embarques para saber como ficará a demanda do setor com as tarifas.
Atualmente, segundo o representante, as tarifas são de 10% e mais da metade das 398 empresas do Planalto Norte de Santa Catarina exportam para os Estados Unidos. São cerca de 7 mil empregos diretos e o setor não descarta demissões caso as tarifas sejam mantidas.
'Tarifaço' de Trump tem consequências para SC
Temor nacional
Em nota, a Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente (Abimci), que representa o setor em todo o país, manifestou "extrema preocupação com as consequências que esta medida trará para toda a cadeia produtiva nacional".
Segundo a entidade, são aproximadamente 180 mil empregos diretos em risco, em um setor que tem em média 50% de sua produção destinada ao mercado norte-americano. Só em 2024, movimentou cerca de US$ 1,6 bilhão em exportações para os Estados Unidos.
O que diz a Abimci
A Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente (Abimci), entidade representativa dos setores de madeira processada e de base florestal, alerta publicamente sobre os graves efeitos da tarifa de 50% a ser imposta pelos Estados Unidos, que já comprometem a competitividade dessa importante cadeia produtiva nacional.
O setor contribui significativamente para a economia brasileira, com uma base industrial moderna, de grande potencial produtivo e de geração de emprego e renda, com aproximadamente 180 mil trabalhadores em postos diretos. A produção se concentra mais notadamente nos três estados do Sul, com cerca de 90% de sua capacidade instalada nessa região, especialmente em pequenos municípios.
Nossa participação na balança comercial brasileira é expressiva. Só para os Estados Unidos exportamos cerca de US$ 1,6 bilhão em 2024, o que representa uma dependência do mercado norte-americano de uma média de 50% da produção nacional. Porém, alguns segmentos madeireiros dependem exclusivamente dos EUA, com 100% de suas vendas atreladas a esse mercado. Por isso, desde o anúncio da possível taxação pelos Estados Unidos, instalou-se a insegurança no mercado, levando o nosso setor ao início de um colapso.
A maioria dos contratos estão sendo cancelados pelos importadores norteamericanos e muitos embarques foram suspensos. Para piorar a situação, atualmente, o setor possui, aproximadamente, 1.400 contêineres com produtos já embarcados e em trânsito marítimo para os Estados Unidos. Além disso, em torno de 1.100 contêineres estão posicionados em terminais portuários aguardando embarque.
Nossas empresas já estão sendo obrigadas a optar por férias coletivas forçadas, na tentativa de ganhar tempo e preservar empregos, enquanto outras estão planejando desligamentos. A produção está sendo reduzida em praticamente todo o setor e, em vários casos, com paralisação total. Nesse momento, nosso grande desafio é lutar pela manutenção dos empregos e continuidade das atividades industriais.
Na reunião interministerial realizada no último dia 15 de julho pelo MDIC em Brasília, a Abimci reforçou para o governo o senso de urgência do setor para que as negociações com os Estados Unidos sejam pautadas pela diplomacia e análise técnica.
Ressaltamos, ainda, a importância de um pedido de prorrogação do prazo para a implementação das tarifas — essencial para ajustes contratuais e logísticos —, assim como enfatizamos sobre a não aplicação da reciprocidade tarifária, que poderia ser interpretada como retaliação ao governo norte-americano, fato que certamente dificultaria ainda mais o diálogo.
O setor de madeira processada está fazendo a sua parte, assim como os demais setores produtivos que têm participação significativa no mercado norte-americano, municiando o governo com dados, cenários e as prováveis consequências que essa taxação vai ocasionar. No entanto, as negociações transcendem nossa atuação setorial e exigem uma ação governamental imediata.
Nesse contexto, a Abimci faz um apelo urgente ao governo brasileiro: não podemos esperar. A cada dia, mais empregos estão em risco, mais empresas podem fechar suas portas. O setor precisa de uma resposta imediata e eficaz.
A indústria brasileira de madeira não pode ser sacrificada. Reiteramos o pedido para que o governo trate esta crise com a prioridade que ela merece, mobilizando todos os instrumentos de diálogo e comerciais disponíveis para reverter essa medida antes que seus efeitos se tornem irreversíveis.
É imperativa uma aproximação mais efetiva com o governo norte-americano, pois entendemos que a negociação diplomática é a via mais adequada para resolver essa questão, preservando os interesses nacionais, a manutenção do setor e de empregos.
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